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sábado, 6 de fevereiro de 2021

XVI. INFORDIÁLOGOS na Rocha Treme-Treme - A Quinta Geração

 
Hoje terminaria a resumida saga do desenvolvimento dos computadores. Byte e Bit tinham feito uma sombra com uma colcha e quatro canas espetadas, e gozavam o fresco à beira-mar, na parte sul da praia do Monte Clérigo, frente ao laredo baixo.

— Posso ir apanhar uns mexilhõezinhos, se o profe quiser. — Dispunha-se Bit.

— Não. Deixa a maré vazar mais um pouco. Vamos entrar na Quinta Geração.

— Então acabamos hoje? Não tinha dito que eram cinco, as gerações? — Inquiriu Bit, na esperança de algum alívio. — Depois são as férias!

— Mais ou menos, mais ou menos. A tua pressa prejudica a aquisição de conhecimentos. — Observou, com desagrado. — Nesta geração, registaram-se alterações significativas na construção dos computadores, nomeadamente no relógio, a emitir cada vez mais ciclos por segundo, e ainda o desenvolvimento da capacidade de executar várias instruções por cada ciclo.

— Ainda as ondas! Então e os transístores?

— Só para fazeres uma ideia, enquanto em 1975 o processador tinha uns 65.000, um Intel 486, em 1989, já usava 1.400.000 e, por 2011, o i5 integrava 1.160 milhões.

— Dá para perceber que cada vez mais integração e, é claro, maior rapidez de processamento. — Era o Bit a querer surpreender Byte.

— Hum! Estudaste alguma coisa? — Byte mostrava a sua satisfação. — Mas um grande passo foi dado também ao nível do software, extraordinária evolução nos sistemas operativos e nas linguagens de programação.

— E a Internet?

— Claro, a Internet. O seu embrião aparece em 1974 a partir da ARPANET.

— Mas um dos passos mais importantes advém do desenvolvimento das pequenas soluções, portáteis, e da desmitificação da informática. A informática vai ao encontro do utilizador, dispensando-o de um grande número de conhecimentos especializados para poder usar a sua plataforma. São as plataformas amigas-do-utilizador (user friendly).

— Mas continua a haver investigação e desenvolvimento, não é? — Bit, interessado. — Cada vez aparecem soluções tecnológicas mais complicadas e… parecem tão simples!

— Claro que o trabalho dos cientistas não pára. Os processadores são cada vez mais rápidos, e os sistemas de armazenamento com cada vez mais capacidade e maior velocidade de acesso aos dados.

— É isso sim, com o meu telemóvel tenho tirado milhares de fotografias que guardo numa nuvem! E vou vê-las quando quiser.

— Sim, até parece que estão mesmo no teu telemóvel! E as conversações com imagem, que vieram a permitir as videoconferências?! E o envio e recepção de objectos multimédia a distância?! Altas tecnologias… no teu bolso.

— Mas dizem que alguns ácaros podem estar sempre à coca das nossas comunicações e intrometerem-se. — Bit expunha a sua falta de confiança na tecnologia.

— Ah! Ah! Ah! Ácaros! — Byte não conseguiu reter uma gargalhada. — Hacker. Diz-se hacker e não é ácaro coisa nenhuma. Já me fazes lembrar o programa radiofónico Portugalex! Não existe uma palavra em português. São técnicos altamente competentes que se introduzem nos sistemas alheios, de forma ilegal, para causar danos ou roubar informação.

— E a robô Sofia? Ela pertence a que geração? — Bit não se deixou abater com o disparate.

— Muito bem, ainda te lembras dela, da Sophie. Pois esta geração, a quinta, é uma das que tem durado mais anos. Há mais de vinte anos que se fala que ela cobrirá a Inteligência Artificial. Da qual a Sophie é um dos mais recentes prodígios.

— Dizem que os robôs vão dominar o mundo…

— A Robótica tem tido grandes desenvolvimentos. Há já robôs que desempenham importantes funções de ajuda a muitos níveis, desde as linhas de montagem, a funções domésticas, gestão de tráfego, enfim inúmeras. Mas ainda falta algum tempo para que eles pensem e tenham emoções.

— Mas essa Sofia, um dia destes vi-a na TV a dar uma entrevista. Hi! Hi! — Bit ironizando. — E agora, já posso ir aos mexilhões?

XV. INFORDIÁLOGOS na Rocha Treme-Treme - A Quarta Geração

 


Byte e Bit caminhavam lentamente e em silêncio desde a curva da estrada do Monte Clérigo. Pararam por alturas do Rasto-Judeus admirando o areal e a fraca rebentação da preia-mar. O mar parecia um lago, quase sem surfistas. Era a praia de novo para os banhistas, sem perturbações.

— Hoje o mar não está para os surfistas. Nunca te sentiste atraído pelo surf? Isso ajudava-te a ter uma melhor percepção dos ciclos, ciclos temporais.

— Eu não, professor? Para a motoreta ainda tenho equilíbrio, agora para a prancha… Mas o que é que isso tem que ver com os temporais? — Bit não percebera o contexto.

— Quais temporais?! São ciclos que demoram um certo tempo. — Byte mostrou-se um pouco impaciente. — Nas ondas, mesmo nas pequenas, há um momento em que a onda se começa a formar e a água sobe, até um ponto mais alto, a crista, e depois desce até um ponto mais baixo, o vale, e depois retoma a mesma altura da partida. Esse movimento, completo, chama-se um ciclo e, consoante o tamanho da onda, assim é mais extenso, ou seja, demorado, ou mais curto, é o comprimento da onda.


O professor Byte acompanhava a explicação descrevendo movimentos ondulatórios com as mãos em curva, captando a atenção de Bit que as seguia com o olhar, não se poupando a algumas caretas.

— Já percebi! — Exclamou Bit, — aí estão os ciclos! Quando há temporal as ondas são maiores e os ciclos também são maiores, são estes os ciclos temporais.

— Não exageres. Os ciclos duram um tempo e é esse o tempo de que vamos falar, hoje, como nas outras vezes: tempo… até onde o consigamos entender. Lembras-te do tal milhão de operações por segundo?

— Sim, claro. A tal adição com um milhão de parcelas! — Bit ainda atalhou. — Mas isso é muita areia para a minha camineta.

— Claro que é! Conheces a cantiga que diz que “há ondas sem ser no mar”? Pois há ondas no ar, que não se vêm. São impulsos energéticos que transportam energia. Podem ser mecânicas ou electromagnéticas. Por exemplo, a luz propaga-se no vácuo, assim como as ondas de rádio, de TV, microondas, etc.

— Profe, vá um bocadinho mais devagar que já estou almareado com tanta onda!

— Percebo. — Byte, contemporizando. — Precisas apenas de pensar em termos de quantos ciclos terá uma onda em cada unidade de tempo. É a frequência. Mede-se em ciclos por segundo, ou Hertz.

— Isso é mais ou menos quantas ondas por segundo? — Concluía Bit.

— Então, voltando ao milhão de operações por segundo, diz-me lá, quanto tempo é que achas que esse computador levaria para efectuar apenas uma operação, por exemplo adicionar dois números? — Byte fixou Bit, expectante.

— Sei calcular, eu era bom nas aritméticas. Basta dividir 1 segundo por um milhão.

— E o resultado é?… — Byte continuou o desafio.

— Então dá um mil… um milésimo… não, um… coiso. Olhe professor, não sei dizer.

— Pois fica sabendo que se diz um milionésimo de segundo. — Ajudou Byte, e continuou, — Pois hoje vamos entrar na Quarta Geração, e nela, o tempo conta-se em fracções muito inferiores a esse tal milionésimo. E para te confundir mais um pouco, o computador trabalha como as ondas e, em cada ciclo, pode executar uma operação.

Estava-se bem ali, a suave brisa massajava o rosto e refrescava a cabeleira. Dois montinhos de pedras convidavam a sentar.

— Ficamos aqui, até ver. — Byte sacou do caderno. — Este período vai desde 1977 até aos anos 1985 ou 1991, não é uma marca muito exacta.

— Nesta geração os chips, segundo a Tecnologia de Integração em Muito Larga Escala (VLSI) puderam integrar cerca de cem mil transístores. Trouxeram uma substancial redução de tamanho pelo que começaram a ser chamados de microprocessadores.

— Foi então que apareceram os microcomputadores, não foi? — Aventurou-se Bit.

— Na verdade esses já apareceram na geração anterior. Mas é nesta que se dá o grande desenvolvimento do Computador Pessoal, o PC, equipado com os microprocessadores da Intel, como o i286, i386, etc.

— E o Windows vem desse tempo? — Perguntou Bit.

— Sim. Nos anos 70 foram fundadas duas importantes empresas para o desenvolvimento de Sistemas Operativos e pequenos computadores:



A Microsoft, por Bill Gates e Paul Allen,

 





e a Apple, por Steve Wozniak, Steve Jobs e Ronald Wayne.

 

 


— Então estes é que foram os tais cientistas de garagem! — Exclamou Bit, que já tinha ouvido qualquer coisa sobre aqueles dois.

— Sim, é verdade. E das suas garagens saltaram para o mundo do sucesso. Bill Gates, por exemplo, é um dos mais ricos homens do mundo. Foram autênticos pioneiros no desenvolvimento dos computadores de pequeno formato.

— Tão rico assim e temos de pagar tanto por um PC! — Suspirou Bit. — Ficamos aqui, até ver…

XIV. INFORDIÁLOGOS na Rocha Treme-Treme - A Terceira Geração

 
— Então estás hoje com melhor disposição para a nossa conversa? Sei que o Aljezurense ganhou e que o teu sobrinho marcou o golo da vitória.

— Se o professor tivesse visto! — Atalhou Bit, com satisfação. — Foi um golaço, e no último minuto!

— O teu sobrinho e o resto da equipa constituíam um grupo integrado. — O professor introduzia assim a ideia do Circuito Integrado. — Todos ligados entre si, pelo menos ideologicamente, todos contribuindo para um objectivo comum: marcar.

— É o que lhe dizia, — acrescentou Bit —, até o guarda-redes joga e pode marcar.

— Pois é a principal característica desta Terceira Geração de computadores: a integração, ou melhor, o uso do Circuito Integrado. O CHIP.

Bit fez aquela cara de quem não percebeu bem, esperando explicações adicionais.



— É um dispositivo parecido com uma pastilha, (também há quem o ache parecido com uma barata), que concentra um certo número de transístores interligados com silício ou germânio. Receberam a designação de CHIP. São preparados para trabalharem em conjunto. Em 1965 reunia cerca de 30. Era a tecnologia da Integração em Pequena Escala (SSI), evoluindo para cerca de 1.000, na tecnologia de Média Escala.

— E assim, rapidamente se passou da válvula para o transístor, — Concluiu Bit. — Mais uma geração! Mais dez ou onze anos? Até 1974, não é?

— Sim, a integração continuou a evoluir. Além de permitir uma significativa redução de tamanho e do consumo, possibilitava um significativo aumento de velocidade de processamento. Já se registavam mais de um milhão de operações por segundo.

— Mais de um milhão? Por exemplo, uma conta de somar com um milhão de parcelas?!

Bit ficou estarrecido. Ele que se ia perdendo no concurso de somar 20 parcelas, que tempo precisaria para uma adição de 100 parcelas? E mesmo que fosse com máquina… não conseguia imaginar. Exclamou: “Um segundo? É tão pouco tempo!”

— Já aqui te falei do IMB 360. Pois este também foi evoluindo e foi um dos primeiros computadores a usar os chips. Esse e outros duma marca de que hoje quase nem se fala: a Burroughs Corporation com os seus modelos B3500 e B3600. 

Sistema IBM/360

— ‘Tou a ver que a IBM continuou a marcar uma posição importante também nesta geração. — Comentou Bit.

— Sim. Com hegemonia. É nesta geração que se desenvolve a conquista do espaço. Em 1969 o Homem chega à Lua. O Projecto Apollo usava um computador AGC (Apollo Guidance Computer) para controlo de todos os sistemas da nave, com mais de 4.100 circuitos integrados.

— Ouvi falar nessa viagem. Mas o Homem foi mesmo à Lua? — Bit, sempre com dúvidas.

— O quê? Mas tens dúvida? É claro que foi. E qualquer dia há-de chegar a Marte. Pois os computadores não param de evoluir. Já em 1965 Gordon Moore (que veio a fundar a INTEL) previa que o número de transístores em cada chip duplicaria cada 18 meses.

— Ups! Bem professor, hoje pago eu uma imperial para celebrar a vitória do meu sobrinho.

— Então está bem. Vamos lá que a maré vai subir não tarda e eu tenho de passar o rio para a Amoreira.