VI. Mais ferramentas de Cálculo
— Professor Byte, esta noite, para chamar o sono entretive-me
a folhear aquele seu livro sobre os computadores. — Bit fazia assim uma
tentativa para chamar a atenção de Byte que parecia ter entrado em meditação,
calado que estava há mais de um quarto de hora. — Fiquei curioso com a imagem dum
anúncio da IBM sobre uma das suas primeiras máquinas.
Byte, sem desviar o olhar da ponta norte da praia da Amoreira,
murmurou: — Esta praia é duma beleza extraordinária! Já reparaste? — Um
riozinho a desaguar aqui em baixo, proporcionando uma maravilhosa piscina
marítima, um imenso areal dourado e, lá adiante, aquela rocha recortada em
bico. Esta costa… aqui houve mão de quem não é deste mundo.
— É verdade, não me canso de admirar a natureza. — Concordou
Bit. — Mas o anúncio da IBM, lembra-se?
— Deves referir-te à IBM 604 Electronic Calculating Punch,
não é? Uma mudança radical no cálculo.
— Essa mesmo. — confirmou Bit. — A IBM anuncia que “tem a
capacidade de produzir o trabalho de 150 engenheiros com Réguas de Cálculo”!
— Sim, foi uma revolução!
— Mas a Régua de Cálculo ainda era tão usada nos anos 50? — Espantava-se
Bit. — É uma ferramenta tão antiga…
— Tens razão. — Concordou Byte. — Apesar de ter sido
inventada aí por 1620 pelo matemático inglês William Oughtred (1570-1660).
Concebeu-a inicialmente na forma circular e, posteriormente, na forma longitudinal.
— E o desempenho da tal máquina da IBM é medida em… Réguas de
Calculo?! — Bit estava cada vez mais surpreendido. — Então ao longo de cerca de
trezentos anos, não se registou qualquer evolução na área dos auxiliares de
cálculo?!
— Quanto à evolução dos computadores, há vários
desenvolvimentos, várias etapas que assinalarei mais à frente. — Byte,
pigarreando a garganta. — Mas a Régua de Cálculo manteve-se em uso durante
muitos anos. Eu próprio ainda a usei na universidade. Era portátil e… barata.
— Então não havia máquinas de calcular?
— Não na forma que actualmente as conhecemos. As primeiras
electrónicas da Casio, fabricadas em série, apareceram nos anos 60. — Explicou
Byte. — Só nos anos 70 é que a HP marcou posição no mercado com as chamadas “científicas
de bolso”. Caríssimas…
— Mas a Régua de Cálculo superou a Pascalina! — Bit
aproveitou para falar revelar os seus conhecimentos. — A máquina que Pascal
concebeu para ajudar a contabilidade do seu pai.
— A Pascalina teve o seu sucesso. Foi a primeira construída
em quantidade: 50 exemplares. — Byte pegou no tema e preparou-se para o
estender. — Era muito engenhosa para 1642. Mecânica, claro! A electricidade só
mais tarde é que foi descoberta. Somava e subtraía e, por repetição,
multiplicava e dividia.
— O seu contemporâneo von Leibniz (1646-1716), considerado
estar dois séculos à frente do seu tempo, aperfeiçoou a Pascalina com a sua Calculating
Machine, que efectuava as quatro operações. Foi injustiçado pela sociedade. — Byte
tinha um especial apreço por este cientista, tão prestigiado que fora, mas que
morreu solitário e esquecido.
— Prefiro a Régua, essa não tem nenhuma engrenagem, apenas
peças móveis. — Insistia Bit.
Voltando ao início da conversa, Bit concordou com a beleza da
Amoreira. O rio e a boca da barra proporcionavam a aventura de combater ou
aproveitar a corrente das marés.
— Já vim desde os Salgados até aqui com a ajuda dum bocado de
cortiça. Só precisei de dar umas braçadas para sair da corrente antes de entrar
no mar. — Orgulhoso, encheu o peito de ar. — Prof, sou um bom nadador, sabe?
Aprendi nos pegos da ribeira e… na Poça d'Arrã.
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