VII. Um tear mecânico programável
— Entretanto
passaram-se quase três séculos sem que se registassem grandes novidades. Hoje
vamos falar do século XIX. — Escuta cá, ó Bit, sabes quando é que começou o
século XIX?
Bit observava
duas traineiras que vogavam frente à rocha, num suave ondular desapareciam
totalmente e voltavam a aparecer, como se navegassem em ondas gigantes. Mas
não, era apenas um suave ondular… Com a ajuda de um pequeno óculo percebia
perfeitamente o nome de um dos barcos: “Boa Viagem II”.
— É o
pessoal do César! — Exclamou eufórico. — É o César!
— Bom, estás
cá, ou andas no mar? — Remocou Byte. — Perguntei-te se sabias quando é que
começou o século XIX.
— O século
XIX? Ora quando foi?! — Demorou a resposta fingindo fazer contas de cabeça. —
Foi em 1800, Janeiro de 1800!
— Estás
enganado. Aliás, como um grande número de pessoas. Foi em 1801. — E explicou
para os séculos seguintes. — O Século XX, em 1901, e o actual, em 2001!
— Por essa
ordem de ideias, Cristo nasceu no ano 1, não?! — Contrapôs Bit.
— É claro
que nasceu no ano 1. — Byte foi peremptório. — Não recuso aprender algumas
coisas contigo, mas quanto a este tema, não há discussão. — E continuou a
introdução ao século XIX. — Saliento algumas notas deste século: a população
europeia atinge cerca de 400 milhões, sendo Londres a mais populosa cidade do
mundo com 6,7 milhões de habitantes; foi abolida a escravatura; os franceses
vieram por Portugal a dentro; Darwin publica a “Origem das Espécies” e a Igreja
zanga-se.
— Já tinha
ouvido sobre isso. Mas… — Bit queria voltar à evolução dos computadores.
— O
personagem mais importante na entrada do século foi Jacquard. — Byte,
pacientemente, continuou. — Filho de tecelão e conhecendo o equipamento
paticamente desde criança, construiu em 1804 um tear automático que tinha a
capacidade de ler e executar sequências de operações “escritas/perfuradas”, segundo
um determinado código, em cartões metálicos, ligados por anéis também metálicos.
— Desculpe lá, professor, não percebo bem como é que isso funcionaria. — Bit, com matreirice. — Temos lá na vila, numa arrecadação, um velho tear; diz o meu pai que tem mais de cem anos, e não estou a ver como funcionaria com esses cartões.
— Achas? —
Byte, irónico. — Como esse teu tear é manual, fazes a leitura a olho, defines a
trama e passas a lançadeira de acordo com instruções mentais! — E continuou. — Fica
sabendo que o uso dos cartões perfurados de Jacquard revolucionaram a indústria
têxtil e tiveram, alguns anos de pois, uma importante influência no
processamento de dados.
— Bem, de
teares percebo mesmo muito pouco. — Admitiu Bit. — Mas de cartões perfurados já
ouvi falar. A minha tia Matilde, já velhota, foi perfuradora de cartões quando
trabalhou em Lisboa. Mas ela dizia que eram para os computadores, e nunca me
falou em teares.
— Pois não
eram os mesmos. — Esclareceu Byte. — Mas esses mais modernos basearam-se nessa
ideia do princípio do século XIX.
— Olhe
professor, o César já está de regresso. Vamos também?
— Vamos lá,
vamos lá. — Balbuciou Byte, com um encolher de ombros. — Os dias cada vez
rendem menos…
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