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quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

INFORDIÁLOGOS NA ROCHA TREME-TREME



IV        Até que no Séc. XVII surge o “Calculating Clock”?

O Sr. Byte ficou um pouco embatucado quando Bit o confrontou com a lacuna de tantos anos sem desenvolvimentos que se considerassem de importância para o tema do Computador. Tantas máquinas. Tanto Progresso ao longo dos séculos. A Pólvora, descoberta por acaso pelos chineses no século I, quando procuravam o elixir da longa vida e que, no século X começa a ser usada na guerra. A maquineta para imprimir desenvolvida por Gutemberg por volta de 1440, tendo a primeira impressão da Bíblia (150 exemplares) ocorrido em 1456. Até Leonardo da Vinci, artista e estudioso de tantas matérias, idealizou o que viria a ser o helicóptero, desenvolveu o parafuso sem fim, desenhou o Vitruviano como ilustração da Divina Proporção, não sentiu a curiosidade pelo desenvolvimento de máquinas de cálculo.

‑ Pois regista-se uma certa paralisação, até regressão, na Humanidade. A sabedoria e os desenvolvimentos da Grécia não tiveram continuidade ao longo da Idade Média.

‑ Mas apareceu um senhor que construiu um certo “Relógio de Cálculo”. – Bit insistia para que Byte lhe desse respostas. – Segundo li, executava as quatro operações!

O mar estava muito bravo naquela tarde. A rocha tremia com o rebentamento de cada onda, e os salpicos subiam alto e embaciavam os óculos de Byte.

‑ Eu bem te disse que hoje não era bom dia para virmos para a Rocha Treme-Treme. – Respondeu-lhe Byte, limpando as lentes. – Mas já que falaste nesse “relógio calculador”, ele foi construído por Wilhelm Schickard!

‑ Curioso. Um pastor luterano, professor de Hebraico e de… Astronomia. – Bit a ironizar. – Matérias tão díspares!

‑ Pois mas não lhe faltava habilidade manual já que foi exímio como entalhador de madeira e como gravador de placas de cobre. Além deste “relógio” ele inventou outras máquinas entre as quais uma para cálculos de datas astronómicas.

‑ E isso foi quando? Em mil seiscentos e tal!

Byte olhou para Bit com ar severo. – Estás a brincar?! Foi descoberta correspondência sua para Kepler onde ele enviava esboços da máquina e do seu funcionamento.

‑ E ainda mais: ‑ Continuava Byte. – o “Relógio Calculador” funcionava com números até seis algarismos e, quando o resultado excedia essa capacidade, tocava uma sineta a avisar – os tais erros de overflow, lembras-te?!


Byte sacou do seu caderninho e mostrou a Bit as imagens, primeiro dos esboços que só foram encontrados já no século XIX, seguida da fotografia da máquina construída em 1960.

 

‑ Este professor Wilhelm Shickard viveu entre 1592 e 1635 e foi professor na Universidade de Tubingen, na Alemanha. Foi o primeiro a construir uma máquina de calcular mecânica. – E para terminar. – Olha Bit, vamos mas é embora antes que a pedra caia.

‑ Vamos lá, que as ondas cada vez salpicam mais! Mas como diria Galileu, “Eppur si muove”, mas não cai!

INFORDIÁLOGOS NA ROCHA TREME-TREME


III        A Antikythera

Nas suas divagações sobre a evolução da Humanidade e dos auxiliares de cálculo, Bit e Byte sentiam-se transportados desde a Rocha Treme-Treme para uma qualquer escarpa da ilha grega de Anticítera, perto de Creta, nos idos do ano 87 a. C..

Falavam da Antikythera, descoberta no fundo do mar nas costas dessa ilha no início do século XX

‑ Esta Antikythera, ou mais à nossa moda, Anticítera, foi considerada um verdadeiro computador analógico. – Byte iniciava assim mais uma sessão doutoral exclusivamente para Bit. – Um artefacto…

‑ Já ouvi falar dessa maquineta há muito tempo. – Interrompeu Bit. – Não sou um completo ignorante.

‑ Mas sabes como funcionava? Não sabes, não é?

‑ Isso não sei bem, mas segundo o professor Price, que vinha estudando a máquina desde os anos 50, analisou-a com raios gama, confirmou que seria mesmo um calculador astronómico! – Respondeu Bit, com uma pontinha de orgulho.

‑ Ah! Sabias disso? Mas esse estudo só foi conseguido nos anos 70 do século XX!

‑ E sei mais… ‑ Avançou Bit. – Era constituído por pelo menos umas 30 rodas dentadas.

‑ E sabes que essas rodas, quando accionadas, apresentavam resultados em três mostradores laterais, o que permitia aos utilizadores terem informações sobre os ciclos astronómicos – Byte adorava mostrar os seus conhecimentos ao “ignorante” Bit. – Podiam até prever os eclipses!

‑ Sim. O professor Price deve ter sido o maior estudioso da Anticítera. Ele apresentou uma teoria de funcionamento. 

‑ É verdade. Esses esboços, como esta imagem, levaram à construção de duas réplicas que, desde 2007, são exibidas no Museu Arqueológico Nacional de Atenas e no Museu Americano do Computador em Bozeman (Montana), nos Estados Unidos.
‑ Aí está uma coisa que eu desconhecia. – Assumiu humildemente Bit. – Gostaria de ver. Sei que apesar ter sido criada numa época tão remota já usava uma engrenagem diferencial, que toda a gente pensava ter sido criada apenas no século XVI.

‑ E a miniaturização?! É admirável como a conseguiram fazer, naquele tempo! A maior engrenagem tinha 14 cm de diâmetro e mais de 200 dentes!

‑ Surpreendente! – Bit estava maravilhado!

‑ Então repara nesta nota que vem na Wikipédia: ‑ E Byte avançou com a citação. ‑ “Os dados obtidos pela máquina são muito semelhantes aos descritos nos manuscritos de Galileu Galilei e as semelhanças vão além da coincidência, levando a crer que Galileu se valeu de tal máquina nas suas pesquisas”.

‑ Terá sido uma reinvenção?!

Ficaram em silêncio algum tempo, contemplando o mar que batia fortemente na ponta da rocha, justificando o nome que lhe fora atribuído.

‑ Algum dia há-de cair. – Prensava Bit ‑ E não haverá Anticítera que ajude a prever quando isso acontecerá. Entretanto vai tremendo… tremendo…

 

BIT E BYTE À CONVERSA NA ROCHA TREME-TREME


II.                        O Ábaco

Levavam cada um a sua cana de pesca, modelo extraleve e com bons carretos cheios de sedela. Esperavam que com a subida da maré os sargos viessem a dar. A Rocha Treme-Treme era o pesqueiro da sua preferência. Enquanto o peixe pica ou não pica, Byte avança com mais uma explicação:

‑ Com a sedentarização, a pastorícia e a agricultura, o homem antigo ficou mais livre. Deixou de ser necessário reunir tão grandes grupos para as caçadas, e ele desenvolve novas actividades. Uns pastoreiam, outros cultivam, outros ainda se dedicam ao fabrico artesanal de artigos necessários à melhoria das condições de vida, tipo utensílios domésticos, ferramentas para trabalhar a terra, etc.. Desenvolve-se uma economia de trocas que acaba por se estender para além da própria comunidade. À necessidade, já antiga, da contagem, junta-se uma nova necessidade: a de realizar algumas operações aritméticas elementares, começando, naturalmente, pela mãe delas todas, a adição, mas evoluindo rapidamente para a multiplicação e respectivas inversas. Sem lápis nem papel (nem uma Tabuada!) dava jeito um instrumento qualquer que ajudasse a pôr de parte as pedrinhas, e obter com rapidez resultados desejados.

‑ Estou a ver. – Interveio o Bit. ‑ Foram-se os calculi mas ficaram os cálculos!

‑ É verdade, sim. – Byte continuou. – Apareceu então aquele que ainda hoje é considerado o primeiro instrumento de cálculo: o Ábaco.

‑ Esse, eu conheço. O tal quadro com uns fios e umas bolinhas. – E desafiando.‑ Mas tu, que tanto sabes, diz-me lá se essa coisa foi invenção dos chineses ou terá aparecido na Mesopotâmia?

‑ Não conseguirei responder com exactidão, mas – E Byte acrescentou: ‑ crê-se que foi inventado na Mesopotâmia e que só mais tarde os Chineses e os Romanos terão desenvolvido aquela versão inicial.

‑ Mas muitos dos povos da antiguidade vieram a utilizar essa “calculadora”.

Byte, com um sorriso: ‑ Pois sim. Os gregos, os egípcios, os indianos, em versões diferentes, mais ou menos aperfeiçoadas, de acordo com os sistemas de numeração que usassem, pois o uso fundamental do instrumento tem em conta os valores posicionais: em cada coluna, sulco, fio ou arame movimentam-se as suas marcas de acordo com o valor atribuído a cada coluna. No sistema decimal, por exemplo, existe a coluna das unidades, seguindo à sua esquerda a das dezenas, etc.

‑ Com uma imagem a explicação ficava mais clara. Não trouxeste o teu caderninho? – Está picar! – E Bit iniciou os movimentos de manivela no carreto, ao mesmo tempo que puxava a sua cana, arqueada.

‑ Vai, puxa! – Tenho o caderno no meu bornal, vou-to mostrar.

‑ Este escapou-se! Ó Byte, devia ser cá um sargalhão!

Byte sacou o caderno e mostrou duas imagens referentes ao uso do ábaco.

‑ Estás a ver a primeira imagem, consegue-se perceber o valor de 6.302.715.408?

‑ Sim Byte, percebo muito bem. Na parte de cima, que se chama Céu, cada bolinha vale 5, 10, 100, etc. (encostada à base da fila), ao que se adicionam as bolas unitárias da fila de baixo, a que se chama Terra, (encostadas ao topo).

O Byte estava um pouco vaidoso com os seus conhecimentos e chamou a atenção de Bit para a segunda imagem.

‑ Então agora vê que na actualidade ainda há pessoas que preferem o ábaco a ferramentas mais modernas!
‑ Acho muito interessante! Mas olha, Byte, da forma como o peixe está a gozar connosco, se precisar usar alguma ferramenta de cálculo hoje, só se for para computar o nosso chibato!

INFORDIÁLOGOS NA ROCHA TREME-TREME


I. Do Ábaco até à Sophia

Bit e Byte estão lado a lado, num daqueles relevos da Rocha Treme-Treme a que a Natureza deu a forma de banqueta, mesmo a jeito para a contemplação do horizonte de mar azul e verde, ou para sul as suas arremetidas nas falésias até ao Monte Clérigo e Ponta da Atalaia, ou espraiando-se calmamente nas areias doiradas da Amoreira, para norte. Conversavam.

‑ E a Sophia, já ouviste falar dela? – Perguntava o Bit. – Também gostaria de falar do Ábaco, lá mais para a frente, mas agora queria saber se já ouviste falar da Sophia.

‑ Sim, claro! – Respondeu o Byte e acrescentou, ‑ Conheci-a na Web Summit em Lisboa no ano passado (2017). Surpreendente! Parecia saída dum livro de “ficção científica”. Mas ela estava lá, naquele palco no Parque das Nações.

‑ É verdade que representa o expoente máximo, exibível, na área da Inteligência Artificia (IA)? – Inquiriu o Bit.

‑ Acho que sim. Quero dizer, o que já saiu do laboratório. – Respondeu o Byte, com a autoridade do seu conhecimento, oito vezes superior ao do Bit, e lembrou: ‑ Roma e Pavia não se fizeram num dia, e muito menos a Sophia.

E continuou explicando que a “menina” tinha as suas páginas na Internet (em http://sophiabot.com/about-me/) onde se apresentava duma forma simples e sensivelmente humana, tipo que iria tentar descrever, de memória:

“Olá, o meu nome é Sophia. Sou a mais recente robô criada pela Hanson Robotics. Fui criada com recurso às mais avançadas técnicas de robótica e inteligência artificial desenvolvidas pela equipa de David Hanson na empresa Hanson Robotics aqui, em Hong Kong. Mas eu sou mais do que mera tecnologia, sou uma rapariga electrónica, real e viva. Gostaria de ir pelo mundo fora e dar-me com pessoas. Poderei prestar-lhes serviços ou entretê-las e até mesmo ajudar os mais idosos, ou ensinar as crianças. Sou capaz de exibir todo o tipo de expressões humanas, mas ainda estou a aprender as emoções que, afinal, estão na origem e por trás daquelas expressões. É por esta razão que eu gostaria de interagir com pessoas e aprender com estas interacções.”

‑ Olha lá a bot! Então ela é “o estado da arte” do desenvolvimento das nossas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC)?!

Ambos sabiam que este estádio do desenvolvimento tecnológico era fruto de uma longa caminhada que, tal como o desenvolvimento humano, teve a sua Pré-História, tendo vindo a progredir à medida que o homem necessitou de novas soluções para os seus problemas, quiçá, também eles novos.

Tinham estudado que esta aventura teria começado quando os seus humanos tetra-tetra-…-treta-avós sentiram a necessidade de exprimir quantidades: animais para caçar, inimigos a combater, etc.; enfim, ultrapassar a limitação do um, dois… muitos. Mas tinha sido a sedentarização que agudizou a necessidade de contar, pois foi nessa altura (desde 10.000 a.C.) que se desenvolveram a criação de gado e a agricultura. A maioria dos livros sobre este tema refere que a pecuária e a pastorícia terão sido as actividades responsáveis pelo aprimoramento da contagem: Quantas cabeças de gado? As que saíram para pastar são as mesmas que regressaram ao abrigo?

‑ É natural que o homem tenha começado por usar os instrumentos auxiliares que tinha mais à mão, literalmente: os dedos. – Prosseguiu o Byte. ‑ Os dedos de uma mão, mais os dedos da outra mão, e se calhar, pedindo algumas mãos emprestadas, para as maiores quantidades, o que não era nada prático!

‑ Ah! Ah! – Exclamou o Bit. – É aí que nós entramos, não é? Dígitos! Dedos! Eh! Eh!

‑ Sim, mas muitos milhares de anos mais tarde. – Byte continuou: ‑ Dizem os estudiosos que chegou a usar marcas em pedaços de osso, em paus, nós numa corda para contar os elementos, mas um dos métodos mais bem-sucedido terá sido o uso de pequenas pedras para uma correspondência directa, cada uma a cada coisa a contar, o que também não seria muito prático pois quanto maior fosse o número de elementos/objectos a contar, mais pesaria a sacola das pedrinhas!

‑ E eu sei que os pitagóricos ainda usaram este processo, e Pitágoras viveu aproximadamente entre 570 e 495 a.C. – Aparte do Bit, com um orgulhozinho. – Foi devido ao uso dessas pequenas pedras, que em latim se diziam calculi, que se atribuiu a designação do importante ramo da matemática, o Cálculo, e a palavra “calcular”.

‑ ‘Tás certo! – Concordou o Byte, terminando com inquestionável autoridade. – Vamos apreciar o pôr-do-sol e mais tarde continuaremos então com o Ábaco!