II.
O Ábaco
Levavam cada um a sua cana de pesca, modelo extraleve e com
bons carretos cheios de sedela. Esperavam que com a subida da maré os sargos viessem
a dar. A Rocha Treme-Treme era o pesqueiro da sua preferência. Enquanto o peixe
pica ou não pica, Byte avança com mais uma explicação:
‑ Com a sedentarização, a pastorícia e a agricultura, o homem
antigo ficou mais livre. Deixou de ser necessário reunir tão grandes grupos
para as caçadas, e ele desenvolve novas actividades. Uns pastoreiam, outros
cultivam, outros ainda se dedicam ao fabrico artesanal de artigos necessários à
melhoria das condições de vida, tipo utensílios domésticos, ferramentas para
trabalhar a terra, etc.. Desenvolve-se uma economia de trocas que acaba por se
estender para além da própria comunidade. À necessidade, já antiga, da
contagem, junta-se uma nova necessidade: a de realizar algumas operações
aritméticas elementares, começando, naturalmente, pela mãe delas todas, a adição,
mas evoluindo rapidamente para a multiplicação e respectivas inversas. Sem lápis
nem papel (nem uma Tabuada!) dava jeito um instrumento qualquer que ajudasse a pôr
de parte as pedrinhas, e obter com rapidez resultados desejados.
‑ Estou a ver. – Interveio o Bit. ‑ Foram-se os calculi mas ficaram os cálculos!
‑ É verdade, sim. – Byte continuou. – Apareceu então aquele
que ainda hoje é considerado o primeiro instrumento de cálculo: o Ábaco.
‑ Esse, eu conheço. O tal quadro com uns fios e umas
bolinhas. – E desafiando.‑ Mas tu, que tanto sabes, diz-me lá se essa coisa foi
invenção dos chineses ou terá aparecido na Mesopotâmia?
‑ Não conseguirei responder com exactidão, mas – E Byte acrescentou:
‑ crê-se que foi inventado na Mesopotâmia e que só mais tarde os Chineses e os
Romanos terão desenvolvido aquela versão inicial.
‑ Mas muitos dos povos da antiguidade vieram a utilizar essa
“calculadora”.
Byte, com um sorriso: ‑ Pois sim. Os gregos, os egípcios, os
indianos, em versões diferentes, mais ou menos aperfeiçoadas, de acordo com os
sistemas de numeração que usassem, pois o uso fundamental do instrumento tem em
conta os valores posicionais: em cada coluna, sulco, fio ou arame movimentam-se
as suas marcas de acordo com o valor atribuído a cada coluna. No sistema
decimal, por exemplo, existe a coluna das unidades, seguindo à sua esquerda a
das dezenas, etc.
‑ Com uma imagem a explicação ficava mais clara. Não
trouxeste o teu caderninho? – Está picar! – E Bit iniciou os movimentos de
manivela no carreto, ao mesmo tempo que puxava a sua cana, arqueada.
‑ Vai, puxa! – Tenho o caderno no meu bornal, vou-to mostrar.
‑ Este escapou-se! Ó Byte, devia ser cá um sargalhão!
Byte sacou o caderno e mostrou duas imagens referentes ao uso
do ábaco.
‑ Estás a ver a primeira imagem, consegue-se perceber o valor
de 6.302.715.408?
‑ Sim Byte, percebo muito bem. Na parte de cima, que se chama
Céu, cada bolinha vale 5, 10, 100, etc. (encostada à base da fila), ao que se
adicionam as bolas unitárias da fila de baixo, a que se chama Terra, (encostadas
ao topo).
O Byte estava um pouco vaidoso com os seus conhecimentos e chamou
a atenção de Bit para a segunda imagem.
‑ Então agora vê que na actualidade ainda há pessoas que
preferem o ábaco a ferramentas mais modernas!
‑ Acho muito interessante! Mas olha, Byte, da forma como o
peixe está a gozar connosco, se precisar usar alguma ferramenta de cálculo
hoje, só se for para computar o nosso chibato!
Webgrafia: WWW.CARLNASC.PT,
www.en.wikipedia.org;
www.history-computer.com;
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