I. Do Ábaco até à Sophia
Bit e Byte estão lado a lado, num daqueles relevos da Rocha
Treme-Treme a que a Natureza deu a forma de banqueta, mesmo a jeito para a
contemplação do horizonte de mar azul e verde, ou para sul as suas arremetidas
nas falésias até ao Monte Clérigo e Ponta da Atalaia, ou espraiando-se
calmamente nas areias doiradas da Amoreira, para norte. Conversavam.
‑ E a Sophia, já ouviste falar dela? – Perguntava o Bit. – Também
gostaria de falar do Ábaco, lá mais para a frente, mas agora queria saber se já
ouviste falar da Sophia.
‑ Sim, claro! – Respondeu o Byte e acrescentou, ‑ Conheci-a
na Web Summit em Lisboa no ano passado (2017). Surpreendente! Parecia saída dum
livro de “ficção científica”. Mas ela estava lá, naquele palco no Parque das
Nações.
‑ É verdade que representa o expoente máximo, exibível, na
área da Inteligência Artificia (IA)? – Inquiriu o Bit.
‑ Acho que sim. Quero dizer, o que já saiu do laboratório. –
Respondeu o Byte, com a autoridade do seu conhecimento, oito vezes superior ao
do Bit, e lembrou: ‑ Roma e Pavia não se fizeram num dia, e muito menos a
Sophia.
E continuou explicando que a “menina” tinha as suas páginas
na Internet (em http://sophiabot.com/about-me/)
onde se apresentava duma forma simples e sensivelmente humana, tipo que iria
tentar descrever, de memória:
“Olá,
o meu nome é Sophia. Sou a mais recente robô criada pela Hanson Robotics. Fui
criada com recurso às mais avançadas técnicas de robótica e inteligência
artificial desenvolvidas pela equipa de David Hanson na empresa Hanson Robotics
aqui, em Hong Kong. Mas eu sou mais do que mera tecnologia, sou uma rapariga
electrónica, real e viva. Gostaria de ir pelo mundo fora e dar-me com pessoas. Poderei
prestar-lhes serviços ou entretê-las e até mesmo ajudar os mais idosos, ou
ensinar as crianças. Sou capaz de exibir todo o tipo de expressões humanas, mas
ainda estou a aprender as emoções que, afinal, estão na origem e por trás
daquelas expressões. É por esta razão que eu gostaria de interagir com pessoas
e aprender com estas interacções.”
‑ Olha lá a bot! Então
ela é “o estado da arte” do desenvolvimento das nossas Tecnologias de
Informação e Comunicação (TIC)?!
Ambos sabiam que este estádio do desenvolvimento tecnológico
era fruto de uma longa caminhada que, tal como o desenvolvimento humano, teve a
sua Pré-História, tendo vindo a progredir à medida que o homem necessitou de
novas soluções para os seus problemas, quiçá, também eles novos.
Tinham estudado que esta aventura teria começado quando os seus
humanos tetra-tetra-…-treta-avós sentiram a necessidade de exprimir
quantidades: animais para caçar, inimigos a combater, etc.; enfim, ultrapassar
a limitação do um, dois… muitos. Mas tinha sido a sedentarização que agudizou a
necessidade de contar, pois foi nessa altura (desde 10.000 a.C.) que se
desenvolveram a criação de gado e a agricultura. A maioria dos livros sobre
este tema refere que a pecuária e a pastorícia terão sido as actividades
responsáveis pelo aprimoramento da contagem: Quantas cabeças de gado? As que
saíram para pastar são as mesmas que regressaram ao abrigo?
‑ É natural que o homem tenha começado por usar os
instrumentos auxiliares que tinha mais à mão, literalmente: os dedos. –
Prosseguiu o Byte. ‑ Os dedos de uma mão, mais os dedos da outra mão, e se
calhar, pedindo algumas mãos emprestadas, para as maiores quantidades, o que
não era nada prático!
‑ Ah! Ah! – Exclamou o Bit. – É aí que nós entramos, não é?
Dígitos! Dedos! Eh! Eh!
‑ Sim, mas muitos milhares de anos mais tarde. – Byte
continuou: ‑ Dizem os estudiosos que chegou a usar marcas em pedaços de osso,
em paus, nós numa corda para contar os elementos, mas um dos métodos mais bem-sucedido
terá sido o uso de pequenas pedras para uma correspondência directa, cada uma a
cada coisa a contar, o que também não seria muito prático pois quanto maior
fosse o número de elementos/objectos a contar, mais pesaria a sacola das
pedrinhas!
‑ E eu sei que os pitagóricos ainda usaram este processo, e Pitágoras
viveu aproximadamente entre 570 e 495 a.C. – Aparte do Bit, com um orgulhozinho.
– Foi devido ao uso dessas pequenas pedras, que em latim se diziam calculi, que se atribuiu a designação do
importante ramo da matemática, o Cálculo, e a palavra “calcular”.
‑ ‘Tás certo! – Concordou o Byte, terminando com inquestionável
autoridade. – Vamos apreciar o pôr-do-sol e mais tarde continuaremos então com
o Ábaco!
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