Byte e Bit
caminhavam lentamente e em silêncio desde a curva da estrada do Monte Clérigo.
Pararam por alturas do Rasto-Judeus admirando o areal e a fraca rebentação da
preia-mar. O mar parecia um lago, quase sem surfistas. Era a praia de novo para
os banhistas, sem perturbações.
— Hoje o mar
não está para os surfistas. Nunca te sentiste atraído pelo surf? Isso ajudava-te a ter uma melhor percepção dos ciclos, ciclos
temporais.
— Eu não,
professor? Para a motoreta ainda tenho equilíbrio, agora para a prancha… Mas o
que é que isso tem que ver com os temporais? — Bit não percebera o contexto.
— Quais temporais?! São ciclos que demoram um certo tempo. — Byte mostrou-se um pouco impaciente. — Nas ondas, mesmo nas pequenas, há um momento em que a onda se começa a formar e a água sobe, até um ponto mais alto, a crista, e depois desce até um ponto mais baixo, o vale, e depois retoma a mesma altura da partida. Esse movimento, completo, chama-se um ciclo e, consoante o tamanho da onda, assim é mais extenso, ou seja, demorado, ou mais curto, é o comprimento da onda.
O professor
Byte acompanhava a explicação descrevendo movimentos ondulatórios com as mãos
em curva, captando a atenção de Bit que as seguia com o olhar, não se poupando
a algumas caretas.
— Já
percebi! — Exclamou Bit, — aí estão os ciclos! Quando há temporal as ondas são
maiores e os ciclos também são maiores, são estes os ciclos temporais.
— Não
exageres. Os ciclos duram um tempo e é esse o tempo de que vamos falar, hoje,
como nas outras vezes: tempo… até onde o consigamos entender. Lembras-te do tal
milhão de operações por segundo?
— Sim,
claro. A tal adição com um milhão de parcelas! — Bit ainda atalhou. — Mas isso
é muita areia para a minha camineta.
— Claro que
é! Conheces a cantiga que diz que “há ondas sem ser no mar”? Pois há ondas no
ar, que não se vêm. São impulsos energéticos que transportam energia. Podem ser
mecânicas ou electromagnéticas. Por exemplo, a luz propaga-se no vácuo, assim
como as ondas de rádio, de TV, microondas, etc.
— Profe, vá
um bocadinho mais devagar que já estou almareado com tanta onda!
— Percebo. —
Byte, contemporizando. — Precisas apenas de pensar em termos de quantos ciclos
terá uma onda em cada unidade de tempo. É a frequência. Mede-se em ciclos por
segundo, ou Hertz.
— Isso é
mais ou menos quantas ondas por segundo? — Concluía Bit.
— Então,
voltando ao milhão de operações por segundo, diz-me lá, quanto tempo é que
achas que esse computador levaria para efectuar apenas uma operação, por
exemplo adicionar dois números? — Byte fixou Bit, expectante.
— Sei
calcular, eu era bom nas aritméticas. Basta dividir 1 segundo por um milhão.
— E o
resultado é?… — Byte continuou o desafio.
— Então dá
um mil… um milésimo… não, um… coiso. Olhe professor, não sei dizer.
— Pois fica
sabendo que se diz um milionésimo de segundo. — Ajudou Byte, e continuou, — Pois
hoje vamos entrar na Quarta Geração, e nela, o tempo conta-se em fracções muito
inferiores a esse tal milionésimo. E para te confundir mais um pouco, o
computador trabalha como as ondas e, em cada ciclo, pode executar uma operação.
Estava-se
bem ali, a suave brisa massajava o rosto e refrescava a cabeleira. Dois
montinhos de pedras convidavam a sentar.
— Ficamos
aqui, até ver. — Byte sacou do caderno. — Este período vai desde 1977 até aos
anos 1985 ou 1991, não é uma marca muito exacta.
— Nesta
geração os chips, segundo a
Tecnologia de Integração em Muito Larga Escala (VLSI) puderam integrar cerca de
cem mil transístores. Trouxeram uma substancial redução de tamanho pelo que começaram
a ser chamados de microprocessadores.
— Foi então que
apareceram os microcomputadores, não foi? — Aventurou-se Bit.
— Na verdade
esses já apareceram na geração anterior. Mas é nesta que se dá o grande
desenvolvimento do Computador Pessoal, o PC, equipado com os microprocessadores
da Intel, como o i286, i386, etc.
— E o Windows
vem desse tempo? — Perguntou Bit.
— Sim. Nos anos 70 foram fundadas duas importantes empresas para o desenvolvimento de Sistemas Operativos e pequenos computadores:
— Então estes é que foram os tais cientistas de garagem! — Exclamou Bit, que já tinha ouvido qualquer coisa sobre aqueles dois.
— Sim, é verdade. E das suas garagens saltaram para o mundo
do sucesso. Bill Gates, por exemplo, é um dos mais ricos homens do mundo. Foram
autênticos pioneiros no desenvolvimento dos computadores de pequeno formato.
— Tão rico assim e temos de pagar tanto por um PC! — Suspirou
Bit. — Ficamos aqui, até ver…
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