Naquela tarde a Pedra Treme-Treme estava ocupada. Dois casais fingiam pescar, um em cada extremo, e Byte decidiu que se afastariam para sul, para o Barbião ou para o Penduradoiro, deixando os moços à vontade.
Para a lição
de hoje Byte preparara uma abordagem à importância do Cartão Perfurado para o
progresso da Informática na viragem para o Séc. XX.
— Ainda te
lembras do tal engenheiro que pôs os teares a funcionarem com cartões perfurados?
— Sim, o francês Jacquard. Foi uma engenhoca de grande sucesso.
—
Engenhoca!? — Byte exasperou-se. — Uma invenção. Uma invenção é que foi. Pois
cerca de cem anos passados, provavelmente baseando-se naquela invenção, o americano
Herman Hollerith, concebeu uma nova aplicação para cartões perfurados.
— Mais
teares… — Murmurou Bit.
— Não, nada
disso. — Byte encarou Bit com cara séria. — Usou os cartões perfurados para a
introdução de dados para serem processados pelos computadores da altura.
— Mas como?! — Questionou Bit.
— Ele trabalhava no United States Census Bureau e inventou uma máquina para fazer o processamento das operações de recenseamento da população dos Estados Unidos. Os dados eram fornecidos a essa máquina através de cartões perfurados segundo um código concebido para o efeito e que se chamava BCD (Binary Coded Decimal) ou seja, Decimal Codificado em Binário.
— E o princípio é o mesmo do
Jacquard? — Bit parecia compreender. — Já estou a ver, onde havia um buraquinho
no cartão era restabelecido um certo circuito eléctrico.
— Grosso modo. — Byte contemporizou.
— O objectivo era fazer contagens, pois tratava-se de um censo. Cada circuito
estava ligado a um contador específico e quando era restabelecido pelo contacto
das extremidades na perfuração, o contador era incrementado.
— E no fim podia-se ler quantos dos
recenseados eram homens e quantos eram mulheres. — Bit estava orgulhoso por ter
percebido a importância da aplicação dos cartões. — Isso deve ter sido uma
grande ajuda para a contagem.
— E foi
mesmo. Repara que dez anos antes, em 1880, o apuramento de resultados tinha
demorado sete anos.
— Sete anos?
— surpreendeu-se Bit. — Mas eram assim tantos os americanos?
— Sim, eram
muitos milhões e a contagem muito lenta. — Respondeu-lhe Byte. — E para o de
1890 eram esperados 10 anos para a obtenção dos resultados. Mas com a solução
de Hollerith, os dados dos 62.622.250 de recenseados foram tratados em apenas
seis semanas.
— Isso foi
um grande sucesso!
— É claro!
Hollerith percebeu que no censo poderia usar perguntas para serem respondidas
apenas com SIM ou NÂO, a que corresponderia uma perfuração ou uma
não-perfuração. — Byte fez uma pequena pausa e observou: — Cá está a tal Álgebra
Binária, lembras-te.
— Isto está
tudo relacionado… — Bit ia percebendo a complexidade do processamento.
— Hollerith teve um estrondoso
sucesso e a sua solução foi adquirida por vários países. Ele foi considerado o
pai da Informática por ter sido o primeiro homem a conceber e usar o tratamento
automático de dados. Foi ainda um dos fundadores da sobejamente conhecida IBM.
— Olhe
professor, os namoradinhos já deixaram a ponta da rocha. Voltamos para lá?
— Não, vamos
embora. Hoje entrámos no séc. XX, amanhã continuaremos.
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